terça-feira, 5 de maio de 2009

Pairar descalça

Vou-me descalçar e andar eternamente descalça. Pisar o chão, todos os chãos que houver para pisar. Sem pisar ninguém, sem pisar alguém. Nunca!
Sentir, simplesmente sentir o chão e o ar que quiser correr entre o chão e os pés. E pairar, suspensa por umas asas imperceptíveis. Sólidas. Que estão completamente à mostra. Finalmente. Fora da caixa onde as fui obrigada a pôr por vontade própria.
Sentir o ar na sola dos pés, nos pés inteiros. Sentir as texturas e as respirações das pedras e das areias... que com o tempo se entranham em nós... pelos dedos dos pés... os mindinhos... só pelos mindinhos, para depois se irem alastrando até se terem impregnado... até os pés mudarem de cor, para um tom ocre... e isso ser confundido com sujidade.
E ficar mesmo com os pés sujos, e de alma lavada. E sorrir com a dor de um corte... ou de muitos pequenos cortes... e voltar a sorrir só porque sim.
Aí saberei que estou viva.
Ou talvez seja só um encantamento, uma ilusão de tão desejados os sentires.
Doce ilusão que me vai embalando pelos caminhos sem sorrisos.
Agarro-a, não a largo. Aperto-a contra o peito até deixar marcas. Mas não a sufoco...

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