quarta-feira, 28 de abril de 2010

Filtros

Sento-me no chão em frente à janela. Um vidro muito limpo tenta não distorcer o que se vê do outro lado.
Através da janela vejo a relva crescer, os pequenos insectos a começar o dia, as florinhas abrir as pétalas com o sol da manhã que parece irradiar uma alegria cansada.
Um pé gigante passa e esmaga tudo à sua passagem... que murcha... uma nuvem escura paira agora.
Abro a janela... depressa... tudo passou...

domingo, 25 de abril de 2010

descalça

Juntei os pés e cheguei-os à pontinha do muro. Durante horas olhei para os meus pés. Durante horas mantive-me sentada na beira do muro. O mar em baixo. O céu ao fundo. Um barco... dois.
E depois do sol se pôr... bem lá ao fundo... levantei-me e fui-me embora. Descalça.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Sentidos

O medo vem... vai. Impede-nos de saltar... faz-nos temer o depois... de não saltar.
A confiança vai... e vem. Faz-nos sorrir, seguir, continuar... mesmo depois de saltar.
O sorriso vem... fica... vai... volta. Faz-nos lembrar que saltámos... ou não. Faz o nosso sol brilhar... sempre.
A dor obriga-nos... a cair, a levantar, a ser, a estar, a sentir... a sentirmo-nos... a estarmo-nos.
Até que se descobre um sentido... o sentido... o nosso.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Os melhores beijos do Mundo

Um beijo terno fê-lo despertar. Resmungou, refilou pela janela aberta e voltou a tapar-se até às orelhas. O despertador tocou, começou a sentir-se o movimento, a preciana a abrir. Mais um beijo.
Beijos dados, beijos retribuidos... com doçura... com amor... com paixão. Com garra, muita garra pela vida vivida e pela vida para viver.
O que ficou por viver foram somente promessas vãs ou então sonhos desfeitos, que se recompuseram noutros... que caminharam com bases a cada dia mais sólidas.
Poderemos fingir que voltamos atrás... para dar o beijo esquecido. Mas até aí estamos a andar para a frente.

sábado, 10 de abril de 2010

english experience

save me... save me from me... save me from everything.
put me in a safe place... maybe at a pedestal... ou simplesmente num lugar bem alto... bem longe. where anyone, even you, even me, can't reach.
smile for me... everyday... everytime... ou simplemente sorri. a smile from inside, from my heart. betting anxiously for me... from me.

muros

Um muro grande, branco, brilhante... algumas manchas escuras... que se esbatem ou escurecem ao ritmo das batidas de um coração. Ao ritmo dos ritmos. Ao ritmo da vida... das vidas.
Escorregamos ao sabor da chuva, em compassos de cheiros e sentidos... pequenos toques... as mãos fecham-se uma na outra... apertam-se.
A mentes voam muito além... numa só... soltas. O corpo enrodilhado naquela beira de muro e de estrada... ao lado de uma papoila minúscula.
A alma vai e volta... rodopia... desliza...cruza-se.
E o sol brilha sempre e muito. Obriga-nos a fechar os olhos... a serrar os punhos... e a seguir sorrindo.

domingo, 4 de abril de 2010

Acreditar

Um vento Norte soprou-me de mansinho e obrigou-me a fechar os olhos. Rodopiei sobre mim mesma e em mim mesma horas a fio.
E agora? E se abro os olhos? Tento em vão faze-lo... mas tudo continua a rodopiar à minha volta. Sinto uma náusea... estatelo-me no chão. E ao mesmo tempo volto a cerrar os olhos.
Talvez até o vento abrandar... talvez para sempre.
Mantenho os olhos fechados e aprendo a ver assim. Vou tateando até conhecer as cores do Mundo pela ponta dos dedos. Reaprendo a viver. Reaprendo a sorrir. Reaprendo tudo, menos a acreditar.
Voltar a acreditar parece-me uma impossibilidade. Voltar a acreditar está ali... à distância de um passo... um passo para mais um abismo!?!?

Texto para a Fábrica das Letras - O Abismo