quinta-feira, 28 de julho de 2011

Relógios

O relógio marca o companso... mesmo o digital. Numa era de autómatos cruéis que se movem cegos pelas ruas.
Procuro uma réstia de humanidade e lá vou encontrando a espaços. Um erva verde entre dois muros de betão, uma flor amarelinha no cimento e uma outra mais à frente, que finta os carros numa qualquer beira de estrada.
... um ser humano minúsculo que se engrandece e arrasta consigo uma pequena horda de cabeças pensantes... espécie em vias de extinção.
Um relógio gigantesco marca as horas, marca os ritmos... e ai de quem daí se desvia... ai de quem sai fora da linha... ai de que se humaniza.
É a escolha, a derradeira escolha... ali, na fila, aceite entre os demais... ou... eternamente só, numa luta desigual e sangrenta e eternamente perdida... para quem fica na linha.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Vozes

Uma voz tão doce encosta-se a mim e permanece breves minutos. Queria parar o tempo, os movimentos... mas guardo para sempre o momento... as fotos mentais que se vão esbatendo nos meandros da minha memória.
Queria até morrer assim. Abraçada em ti... em vocês... e nas recordações doces das nossas vidas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Presentes

O Natal é hoje, chegam os presentes. Mal dormi. Revirei-me na cama horas a fio até adormecer num sono entrecortado, agitado por sonhos mil dos quais já nem me lembro. Não contam. Não interessam.
A noite passou.
Acordei de manhã naquela ansia de saber que hoje é Natal.
Já programei tudo e desprogramei umas mil vezes... pelo menos.
Sei que nada vai ser como o esperado. Sei que vai ser sempre muito melhor.
E espero o dia a passar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mais um dia

E pronto, já está mais um dia... e começa o dia. Entro no carro, tranco as portas, ponho o cinto, ligo o rádio... gestos automáticos... todos os dias, mais ou menos à mesma hora. Até já os deuses se habituaram e esperam que eu acabe o meu ritual e me ponho a caminho para me assaltarem o pensamento.
E penso nos meus amores... e invariavelmente em ti. De mansinho... um quilometro mais à frente que no dia anterior ou uns metros mais atrás lá chegas tu de mansinho. E ficas, pelo menos até à curva seguinte.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ainda aí estás?

Agito os braços no ar, na ânsia de que me vejas... de que alguém me veja.
Mas já não me vês... eu não sei por onde andas... e cruzo-me diariamente com simpáticos estranhos que me sorriem.
As minhas dores conheço-as eu... as alegrias também.
Vou soltando risos para o ar... guardando sorriso... encolhendo as lágrimas que são só minhas.
Cada vez mais numa concha pequenina só minha... aberta a espaços para o Mundo.
Ainda estás aí?

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Xiuuuuu... é segredo.

Não contes nada a ninguém... sussuro.
Xiuuuuuuu... é segredo... digo baixinho.
É só meu.
É segredo que ainda te amo e que as nossas memórias me acompanham todos os dias nos percursos de carro... nas músicas partilhadas... nos passeios de mãos dadas... nos pés descalços pela praia.
É este o meu segredo... as nossas memórias no fundo da mala... e da alma.
Uns dirão que sou louca... que o tempo tudo apaga. Outros encolherão os ombros. Outros ainda acharão que não vivo aqui, neste mundo.
Por isso é segredo. Podem até achar-me louca... descabelada... de pés fora da terra e cabeça no ar. Podem até encolher os ombros.
Mas estas memórias boas não permito esquecer-me. Embalo-as entre sorrisos e saudades. E um grande amor nunca se pode perder de vista... nem que seja nas memórias.
Por isso... xiuuuuuuuu... é o meu segredo.

Tema para o desafio de Julho da Fábrica das Letras - "Segredo"

terça-feira, 5 de julho de 2011

Passos

Fechei a porta devagar e saí em silêncio. O som dos meus passos foi a minha companhia durante algumas horas. Ritmados, lentos, ajudaram-me a reorganizar-me. O tempo que precisei deles, estiveram lá, a marca compassos.
Depois... depois peguei-lhes ao colo e continuei a caminhar. Porque não dá para parar.