terça-feira, 20 de janeiro de 2015

«... contava-me, por exemplo, que, era eu bebé, lhe doía a boca de me dar beijos. Entre tantas mulheres apenas ela me declarou isso. Deve ser tão bom doer a boca de beijar. ...» António Lobo Antunes - "Mãe"


Lembro-me na pele dos teu aconchegos.
Quero chegar-me de novo, mas não consigo.
Algo nos repele.
Pólos iguais, provavelmente.
Tristezas parecidas...
Colecionamos tristezas como duas maníacas.
E tratamo-las com cuidados acrescidos.
Aprisionamo-las a nós e já não sabemos viver de outra forma.
Pergunto-me se sabes disto.
Pergunto-me se sabes o segredo para fugir e se escolhes permanecer.
Pergunto-me...
E sigo triste.
Talvez um dia eu descubra o segredo.
Talvez um dia também eu permaneça.



sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Juntos

Vieram de fora.
Dos quatro cantos dos seus mundo.
Sentaram-se numa roda disforme.
Permaneceram.

Olhou para mim com pena.
Eu, um destroço de mim, permaneci imóvel.
Com pena de mim própria.
Saí. Em silêncio.

Abracei-te.
Encostei-te nos meus braços.
No fim estava enroscada em ti.
Fomos ficando.
Juntos.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Lágrimas

Que aconteceu?
Onde estava eu enquanto tu crescias assim?
Descuidei-me. Distrai-me.
E de repente. De um dia para o outro. Lá estavas tu.
Maior que eu.
E nesses mesmo dia fizeste as malas. Saíste de mim.
Ficou um vazio enorme aqui dentro. Sabias?
Não estava preparada.
Podias ter avisado!!!
Dado sinais.
...
Deste?
...
Isso? E esse também?
...
E eu que não percebi.
Admito. Desculpa-me.
Eu não quis perceber.
Eu não quis ver que estavas a mudar. A crescer.
A tornares-te em ti. Fora de mim.
Desculpa-me. Mas dói muito.
...
Sim. Eu vou saber viver com isso.
Voa descansada.
Mas permite-me que não me habitue.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Gerra II

Levanta-te.
Levanta-teeee.
LEVANTA-TE!
PEGA NA ARMA!
NÃO LIMPES A LAMA!
Caminha, caminha sempre.
Nem que seja em círculos.
Se páras morres.
Sou eu que te mato.
Eu, sangue do teu sangue. Eu que saí de dentro de ti.
Mato-te e passo-te por cima.
Sem pena
Sem sequer olhar para trás.
Limpo as botas no teu corpo inerte. Que me servirá de capacho.
E deixo esse teu corpo que um dia me acolheu a ser debicado por predadores. Até que apodreça.
LEVANTA-TE!
PEGA NA ARMA!
NÃO LIMPES A LAMA!

Guerra

Cansada da guerra.
Quero só sentar-me um pouco. Limpar a lama do corpo.
Quero poder ter tempo, para sobreviver.
O meu corpo não aguenta mais as balas.
Uma tristeza que me abafa, sufoca.
Seca-me a boca e a garganta.
Grito em vão. Canso-me ainda mais.
Sento-me enfim. Encostada a um muro.
Mas a guerra não pára.
Não se suspende por mim.
Por ninguém.
Tornou-se um vício.
Não se consegue parar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

FACEBOOK

O "Mulheres Com Bigode" instalou-se no Facebook.
Muito moderno que está este blog.
Espreitem em: https://www.facebook.com/mulherescombigode
E... divirtam-se

Balas

Entraste. Rebentaste portões e muros. Partiste tudo.
Destruíste o acreditar.
Arrasaste o mundo... e o meu mundo.
Mas ele é tenaz, é forte.
E decidiu não morrer.
Floresce. A cada dia.