quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Levantar

Levantei-me a custo.
Corpo entorpecido... dorido.
Dei os primeiros passos na direção de um vazio que sempre me acompanha.
Fiel... a mim mesma.
Um cansaço triste que me quebra as pálpebras.
As mãos em abandono, caidas ao correr do corpo.
Sigo. Dormente. Anestesiada.
Tento não sentir.
Luto... de luto.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Palavras

As últimas palavras. Serão estas?
Perdi.
Deponho as armas a teus pés.
E entre soluços contidos... parto.
Um regresso a mim.
Um sair de ti.
Um nós sonhado...
...que se ficou por um desejo ardente e inacabado.
Cabeça erguida num orgulho de batalha injusta.
Limpo o sangue que escorre pela minha cara.
Arranco a terra barrenta que se agarrou à minha pele.
Tento lembrar-me como se respira e tirar o teu cheiro que me envolve.
Gotas de ouro que se cravaram na minha alma.
E um minuto de cada vez vou lembrando as palavras ditas...
...que achei serem tão sinceras...
Quis acreditar...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Remar

Demoro-me em ti. Tanto tempo. Todo o tempo que posso.
Perco-me em memórias curtas.
E a tua ausência marca-me o corpo e a alma. A tua indiferença doi-me muito.
Vai-me rasgando por dentro, reabrindo feridas antigas.
E no tempo saberei  que novas feridas se abrirão.
O peito aperta-se-me e o ar passa com dificuldade.
Busco por sinais que se esbatem a cada segundo.
Tento continuar, não desistir. Tento acreditar.
Começo a ficar tolhida por um cansaço tão meu conhecido.
O cansaço de quem rema sempre sozinha.
Solidão.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Guerras

Porque tem de ser tudo tão difícil... tão doloroso?
Porque há de vir tudo carregado com uma dose de sofrimento?
Estou cansada de guerras de onde saio esfarrapada e com a alma esventrada.
Mesmo que vitoriosa, a dor vem sempre agarrada à minha pele, como se de mim fizesse parte.
A dor... uma segunda camada de mim mesma que teima em não me largar.
Olhos a cada dia mais baços pela tristeza do que me rodeia e de que me rodeio.
Os meus olhos interiores que veem cada vez mais fundo e mais longe. E carregam as dores das existências.
Finjo institivamente uma alegria que há muito não existe... procura-a indefinidamente... e um estar viva que cada vez mais se aproxima da morte.
Um esvaimento lento e prolongado, que me persegue de forma perguiçosa mas tenaz.
Um dia ficará somente um rasto de poeira...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Qual é o seu maior medo?

Revolve-se e revolta-se na cama. O suor tomou conta dos cabelos curtos e encaracolados.
Tom aloirado na pele morena. E começa a ensopar a almofada branca e a molhar a gola do
pijama onde alguns astronautas pairam num fundo verde.

Um carro desgovernado, numa rua a preto e branco, de uma cidade a preto e branco, sai desgovernado de uma das curvas da vida. De repente estou deitado no chão. Muita gente à volta e um fio de sangue vivo, muito vivo, escorregue-me pela boca. Sons ao longe, que se afastam cada vez mais e o branco desaparece deixando só o preto.

Lençóis e mantas estão já enrodilhados ao fundo da cama, sem tocar o chão. E o desassossego
continua a acompanhar-lhe o sono. Eterniza-se ali por minutos que se trocam nas horas e se
pedem entre os segundos.

Tanta luz e uma aflição imensa. Horas depois uma cadeira de rodas a colar-se-me ao corpo. A enredar-se-me nas pernas, sobe-me pela anca e tolhe-me os movimentos do tronco e dos braços. Sobra-me uma cabeça pensante e lúcida, que gira de forma estonteante. E o homem aranha que não chega.

Senta-se na cama, olhos fechados. Solta um grito rouco. Enrodilha-se em si próprio. E ali fica,
imóvel. Um bocado de ser que quer voltar ao quente e húmido do ventre da mãe.

Estou preso por lianas muito finas, que se transformam em novelos de lã de cores garridas… começam a apertar. Não tenho ar. E ao fundo o meu pequeno amor olha-me com indiferença. Estou no pátio da escola. E ela senta-se à minha frente de pernas cruzada, com o nariz pequenino encostado ao meu. Olhar frio, desprovido de mim…

Faço-lhe uma festa na cabeça. Volto a aconchegar-lhe as roupas. Beijo-lhe os cabelos. Ele
aninha-se e sossega, por fim.

Caminhar

Caminho aqui... mesmo aqui. Ao teu lado.
Qualquer coisa estica a mão e agarra a minha. Sente-a.
Podes apertá-la com força... quando quiseres, quando precisares.
Ou só porque sim. Ou trazê-la junto a ti.
Basta estarmos.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Fugir

Foge para mim... e não voltes a olhar para trás.
Não te prendas em dores que te precipitam para o nada. E te rasgam por dentro.
Guarda a arca das boas recordações e segue em frente.
Traz-te somente a ti... e aos teus.
Toma... a minha mão. É nossa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

“A pior coisa na vida é...”


Enrodilhada numa teia de mentiras e desonestidades caminha de cabeça
baixa, amor próprio ferido de morte, olhos no chão, com lágrimas a quererem
irromper a qualquer momento e que trava à força, dor no peito.

Está perdida… no mundo, na cidade, na vida. Pior, perdeu-se há muito dela e
dentro dela.

Quer fazer algo, mudar o seu rumo, escrever de outra forma o seu destino.
Quer escolher outros tons para si e para a sua vida. Tons mais claros, mais
abertos, mais límpidos. Tons que a mostrem a ela e não ao monstro em que se
tem vindo a tornar.

Mas não sabe como, não sabe por onde começar. Sente-se aprisionada num
mundo negro e de dor que ela própria criou. Ela é a única responsável e sabe
disso… e vive isso todos os dias.

Volta a casa na esperança, que nunca morre, de encontrar ali a ponta por onde
vai pegar, o brilho e o viço dos quais se perdeu com o avançar da idade.

Enrodilha o seu corpo num canto onde fica horas…Pela sua cabeça, que nada
do que foi obrigada a fazer lhe perdoa, voam, numa sucessão estonteante,
todos os momentos dos seus últimos anos. Um espelho da mentira em que se
tornou… por fim adormece.

Sentir

Durante dias senti-te...colado em mim.
A lembrança das tuas mãos no meu corpo faziam-me estremecer assustada.
A tua voz tão perto arrepiava-me.
Durante dias guardei estas memórias em forma de sensações.
De propósito agarrei-as as mim.
E com o passar dos dias os teus contornos foram-se esbatendo.
Aí...desejei novas memórias... novas sensações... toques renovados.
Em vão.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Debaixo de água

Tapo o nariz. Fecho os olhos. E deixo-me descer lentamente até ficar completamente debaixo de água, onde os pensamentos correm bem mais depressa... onde tudo é simples.
Sento-me. Finjo que faço uma birra, mas estou só triste. E ninguém vê. Ninguém.
Fico ali sentada...imóvel. Até sentir que faço parte. Até ao dia em que a dor for suportável.

Emoções

Uma catadupa de emoções sobem por mim acima.
Chegam-me à garganta e aos olhos em forma de soluço convulso... que não deixo sair.
Não posso.
Um turbilhão de palavras rodopia-me... entre a cabeça e o coração. Maldito cérebro pensante... Maldito coração que me consome. Reprimo os dedos que anseiam por uma resposta a tudo. Mas que resposta?
Quero livrar-me dos dois...  cabeça e cérebro... e cair numa apatia serena, que me carregue até chegar o tal dia. O dia em que tudo passa. O dia em que todas as dores se esbatem. E sei, sempre soube, que esse dia não é lá muito à frente.E por isso corro, caminho, tropeço... limpo uns arranhões e outros deixo sangrar, até ficar só a cicatriz.
Refugiu-me dentro dos livros, escondo-me e encontro-me neles.Pairo junto das crianças que me abraçam sem medos e sem incertezas no seu amor e no meu amor..
E tento aceitar... aceitar-me... tranquilizar-me deste desassego de existência, tumultuada no seu todo.


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

“A melhor coisa na vida é...”


Perguntaste-me pela manhã, bem cedo: “Qual é a melhor coisa da vida?”.

E eu não soube responder como tu querias… logo… naquele instante.

Desapareci de mim e de nós uns 3 dias. Ou terão sido uns 3 anos? Não sei. Nada mais teve a mesma importância. Mas essa simples pergunta acompanhou-me em todas as viagens que fiz. Sabia-a guardada naquele bolso pequeno, da mala pequena que tu me ofereceste quando nos conhecemos melhor… e eu nunca mais larguei.

Ainda guardei a esperança que se perdesse por entre a confusão da mala, ou caísse sem eu dar por nada. Mas não.

Até que um dia me sentei, sem saber bem onde estava, e percebi, finalmente, onde estava a resposta.

Corri para os teus braços. Galguei os lances da escada do prédio velho onde moramos, tropecei e feri um joelho e as palmas da mão. Entrei de rompante e ali estavas tu… onde sempre tinhas estado e eu já não via.

“A melhor coisa da vida… é a vida!!!”.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Homem Inteligente


Sou doente pelo homem inteligente, fanática, viciada… Procuro quase em desespero o homem inteligente. Sei  viver sem ele, mas não se quero viver sem o homem inteligente. O homem inteligente é uma raridade fabricada no Olimpo, uma pedra preciosa que não está ao alcance do entendimento da maioria.

O homem inteligente ama como o fogo de quem não sabe se o amanhã acontece. E beija com a calma de quem promete que tudo pode ser eterno. O homem inteligente acolhe nos seus braços e protege, sem apertar. O homem inteligente sabe ao cheiro morno da manhã.

O homem inteligente sabe o que é ser belo, sabe como ser belo e sabe como prender na renda de uma conversa e de uma mão que se toca ao de leve. De um olhar mais profundo. De um sorriso que se mantem mesmo ao canto da boca.

O homem inteligente faz as pernas tremer e desconcerta só porque sim… para depois aninhar e concertar. Na ilusão da segurança onde as mãos passeiam no reconhecer de novos trilhos desde sempre conhecidos.

O homem inteligente envolve numa perfeição desconcertante. Porque é ele… talhado entre os deuses.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Respirar

Custa-me a respirar.
Hoje em especial? Não.
Tantos dias assim, em que o ar passa a custo para entrar no meu peito de forma timida.
Lágrimas mesmo à beira dos olhos, numa resistência imensa.
Um aperto no peito que vem desde sempre.
Um sitio onde os tempos idos se tornam presentes... e eu sei que futuros.
Que desassossego é a vida.