sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Qual é o seu maior medo?

Revolve-se e revolta-se na cama. O suor tomou conta dos cabelos curtos e encaracolados.
Tom aloirado na pele morena. E começa a ensopar a almofada branca e a molhar a gola do
pijama onde alguns astronautas pairam num fundo verde.

Um carro desgovernado, numa rua a preto e branco, de uma cidade a preto e branco, sai desgovernado de uma das curvas da vida. De repente estou deitado no chão. Muita gente à volta e um fio de sangue vivo, muito vivo, escorregue-me pela boca. Sons ao longe, que se afastam cada vez mais e o branco desaparece deixando só o preto.

Lençóis e mantas estão já enrodilhados ao fundo da cama, sem tocar o chão. E o desassossego
continua a acompanhar-lhe o sono. Eterniza-se ali por minutos que se trocam nas horas e se
pedem entre os segundos.

Tanta luz e uma aflição imensa. Horas depois uma cadeira de rodas a colar-se-me ao corpo. A enredar-se-me nas pernas, sobe-me pela anca e tolhe-me os movimentos do tronco e dos braços. Sobra-me uma cabeça pensante e lúcida, que gira de forma estonteante. E o homem aranha que não chega.

Senta-se na cama, olhos fechados. Solta um grito rouco. Enrodilha-se em si próprio. E ali fica,
imóvel. Um bocado de ser que quer voltar ao quente e húmido do ventre da mãe.

Estou preso por lianas muito finas, que se transformam em novelos de lã de cores garridas… começam a apertar. Não tenho ar. E ao fundo o meu pequeno amor olha-me com indiferença. Estou no pátio da escola. E ela senta-se à minha frente de pernas cruzada, com o nariz pequenino encostado ao meu. Olhar frio, desprovido de mim…

Faço-lhe uma festa na cabeça. Volto a aconchegar-lhe as roupas. Beijo-lhe os cabelos. Ele
aninha-se e sossega, por fim.

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