sábado, 30 de março de 2013

Arrastar

Arrastas-te nesta vida agarrado a um passado que não tiveste.
A uma infância de dor.
Agarras-te a falsos conceitos e recrias ao minuto os teus próprios preconceitos.
E assim vais vivendo.
Soberbamente... dono da razão.
Uma triste razão de quem foi deixando a vida passar.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Mãos

Dou-te as minhas mãos, entrego-tas... sem medo, sem pudores.
Na esperança de um nada, que se vai revelando um tudo.
Sabendo de antemão que um dia, sem pré-aviso, partiremos em direções opostas.
Sem mágoas e com uma mão cheia de recordações e a outra repleta de carinhos.
Sem sabermos como... talvez vivamos para sempre no sorriso um do outro.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Palavras

Quero entregar-me às palavras e perder-me nelas durante a minha eternidade finita.
Desejo brincar com as palavras e jogar-lhes com os sentidos.
E pegar nelas... e embrenhá-las em mim. Formar um único ser... construído, constituído, sustentado pelas palavras.
Palavras que serão amantes, amigas, confidentes, pai e mãe, filhas queridas.
Palavras que desenharei no ar de um mundo muito meu.
As palavras serão o meu manto, que me embrulhará em dias de gelo...o meu único legado a quem amo.
E no dia em que as palavras adormecerem ao meu lado... nesse dia morro feliz.
Levo comigo as palavras que deixo.

terça-feira, 12 de março de 2013

O amor hesita


“VAI. Se der medo, vai com medo mesmo”. A frase gritou-lhe de uma parede qualquer, de uma
rua qualquer, de uma cidade qualquer, deste mundo.

Olha para o telemóvel… mais um vez. Já perdeu a conta às vezes que o tirou do bolso das
calças e se sentiu tentado a ligar. Hesita… tanto.

Minutos de angústia. Medo de seguir em frente, medo de arriscar. Um medo que lhe tolhe a
capacidade de decidir, que o inunda de receios, anseios e medos, que crescem e o abocanham.

É feliz? Não. Sente que não. Tenta trautear umas cantigas e ensaia uns números de
ilusionismo. Mas a desesperança tomou-lhe conta da vida.

Volta a pegar no telefone. Rabisca uma mensagem que morre ali mesmo, entre um ai e um
suspiro, entre um minuto e outro.

Sensação de desperdício que se descontrola. Um amor trancado em si… que hesita.

Carta


Lisboa, 11 de março de 2013

Minha querida e, sem dúvida, melhor amiga,

Tenho saudades tuas. Digo-te isto assim… sem medos, sem pudores, sem reservas.

Desapareceste há já alguns anos, que são para mim longos demais. Sinto a tua falta, da
tua gargalhada solta, dos teus pés no chão… do teu colo.

Onde tens tu estado quando mais precisei? Tu que tens estado sempre para todos… não
tens o direito de desaparecer assim de mim.

Fazes-me falta… com a tua capacidade de acreditar sempre, em todas as circunsâncias,
com a tua força interior que transborda e se espalha como se tudo fosse uma festa. Tu,
que transportas em ti a ingenuidade de quem quer mudar o mundo, e acredita que o
pode fazer.

Preciso de ti mais tempo ao meu lado, em mim. Somos dois lados da mesma moeda (eu
sei, parece banal, uma frase batida e ôca. mas eu sinto-nos assim). Preciso de ti alegre,
com a vida que sempre transportas.

Preciso de ti!!!

Um enorme beijo cheio de esperança…
…de mim…
… para mim.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Esperanças

Um dia tudo muda.
A brisa deixa de correr, as aves silenciam-se, os arbustos ficam imóveis... e tudo muda.
Talvez o sol volte a brilhar. Talvez arranje forças para afastar as nuvens.
Pé ante pé uma pequníssima flor desperta... empurrado torrões de areia pesados.
Ao longe, um riacho volta a salpicar a terra seca em volta.
E todo este brilho ganha um nome... esperança!!!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Sair

Puseste-me o braço por cima dos ombros...
e eu fiquei ali... suspensa.
Desejei que o tempo parasse.
Desejei sermos um... e estivemos tão perto.
Nem nós o soubemos bem.
Nem nós soubemos o quanto...
Ali, naquele abraço... naquele beijo impar.
Voei, durante dias...com o tem braço a apertar-me pela cintura.
Um dia saíste de mim...
Até quando... provavelmente, até sempre.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Chuva

Lá fora a chuva começou miudinha pela manhã.
E persistente, foi engrossando as lágrimas.
Cá dentro já chove também.
Há semanas que chove sem parar.
Suspiro e respiro.
Espero que passe... e que lave, renove...
E quando parar... talvez a vida recomece.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Almofadas

Atiro-me para cima da cama...
onde ainda está o teu cheiro.
E enterro a cabeça na almofada,
tentando em vão adormecer.
Ordeno ao meu cérebro que se desligue,
ultrapassando a barreira da consciência e o limite do ser.
Olhar vazio posto no nada,
num anestesiamento que me convém...
num mutismo a que me agarro.
Permaneço... assim.