sábado, 26 de setembro de 2009

Espinhos ao sol

Os espinhos cravaram-se-lhe primeiro numa mão... acabando por se alastrar ao resto do corpo durante toda uma vida sempre de luta, sempre com a armadura vestida. Excepção para um dia, um único dia em que viu uma nesga de sol e resolveu vivê-lo. Sem dúvidas que o viveu na sua plenitude. Respirou sem filtros, olhou sem máscaras, correu sem atilhos nas pernas, abraçou sem limites, beijou e beijou e tornou a beijar até ficar sem fôlego. No final do dia, quando confiou, quando acreditou que poderia guardar o fato de guerra... deu o seu último suspiro depois de ser apunhalada... de frente, no peito.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vou morrer...

Vou morrer com uma pétala branca, de rosa branca, cravada no peito. Vou morrer com um ligeiro suspiro que solto, numa performance ensaiada durante anos... e repetida milhares de vezes até ter a certeza de que naquele dia correrá de forma perfeira. Porque não haverá encore...
Sei muitas coisas, sei muitas coisas que vão comigo e muitas coisas que por cá ficarão. Só não sei se sei as mesmas coisas que tu, só não sei se soube aprender contigo. Porque não tenho a ousadia de querer ensinar.
Quero egoisticamente aprender, beber dos outros e de ti. Lamber até à ultima gota o Mundo. Este Mundo de lama e sangue, de suor e dor, de alguns sorrisos... forçados... onde me mantenho erguida à força de pulso.
Procuro incessantemente um pouco de almas genuínas... e sempre que estou a um ponto de apanhar uma e a agarrar... ela escorrega-me por entre os dedos... e começa tudo outra vez.
Vou morrer num suspiro breve de uma felicidade cansada.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Lembro-me...

Lembro-me tão bem... "vou estender a roupa. quem quer vir?". E lá ia eu de bola debaixo do braço, enquanto a minha irmã ficava em casa a brincar aos crescidos.
E eram momentos mágicos aqueles... Eu ia buscar as molas e as pequenas peças de roupa, que ela estendia. "uma camisola minha. Mais uma camisola minha. Umas calças gannndessss". Corria por entre a roupa e chutava a bola com força... "gooollloooooooo!".
Lembro-me de me aninhar no colo dela e lhe chamar "minha rainha", enquanto ela me apertava e me chamava "paixão".
Lembro-me de correr todas as manhãs para a cama dela, a que eu chamava "o teu mimo", para me aninhar nela, que estava sempre quentinha, e voltar a adormecer... ou conversar até a fome fazer doer o estômago.
Lembro-me de estender o guardanapo com bolinhos imaginários, feitos pela avó... e ela os comer deliciada.
Lembro-me tanto e de tanta coisa... Lembro-me de aprender a andar de patins com ela e do dia em que me tirou as rodinhas da bicicleta e me ensinou a andar.
Lembro-me quando me ia buscar à escola e me ouvia a contar o meu dia.
Lembro-me que tinha uma canção só para mim e ma cantava ao ouvido, quando me pegava ao colo como a um principe, e me contava as histórias do pirata dentolas e dos senhores do wresttling mesmo antes do adormecer.
"boa noite minha rainha!"

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Quem perdeu...

Os dados voltaram a rolar em cima da mesma toalha de plástico com flores garridas de sempre. Onde sempre foi perdendo.
Uma mesa redonda onde há anos perde a paz, a calma, a serenidade... ou terão só sido alguns meses? Perdeu a conta ao tempo, que lhe trocou as voltas... naquela sala escura e com cheiro a tabaco... onde semana após semana esborratou o baton e o rimel cuidadosa e meticulosamente posto para o momento.
Os dados rolaram mais um vez... e mais uma vez pôs em cima da mesa de madeira da avó o sorriso, o acreditar, a alma... que tantas vez perdeu e recuperou, entre uma passa num cigarro amarfanhado e um golo de amêndoa amarga.
E fechou os olhos e esperou...desta vez não houve lágrimas a atraiçoarem-na.
Os dados pararam... finalmente.
Já não suporta o barulho dos dados a girar que se agiganta ensudecedouramente à frente dos seus olhos. Por isso os fecha... numa tentativa patética de não ouvir aquele barulho que a fere.
Os dados pararam... mas aquele silêncio era ainda mais ensurdecedor que o girar daqueles dois cubos gastos pelos ventos dos anos.
Teve medo, tanto medo de abrir os olhos e ter de entregar a serenidade outra vez... abriu os olhos ligeiramente e suspirou... por agora a sernidade continuava na sua mão.
E sente que poderá... talvez... recuperar o acreditar que continua do lado de lá.


"A noite acabou
O jogo acabou
Para mim aqui
Quando acordar
Já te esqueci
O filme acabou
O drama acabou
Acabou-se a dor
Tu sempre foste um mau actor
Fizeste de herói no papel principal
Mas representaste e mentiste tão mal
Quem perdeu foste tu só tu e nunca eu
Afinal hoje o papel principal é meu e só meu"
(Adelaide Ferreira - Papel Principal)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cigarro

Acorda cinco segundos exactos antes do despertador do telefone querer tocar. Faz um sorriso porque mais uma manhã em que lhe trocou as voltas e o desligou sem o deixar acordá-la em sobressalto. Levanta-se com o cabelo em desalinho e a boca empastada, a saber mal. Toma os comprimidos da manhã e enrola um cigarro, enquanto bebe um copo de leite com chocolate.
Acende o cigarro com o mesmo fósforo que usa para acender o fogão onde aquece a água com que se lava.
Toma um banho apressado enquanto um refogado que começou de forma despreocupada quase queima; entorna a carne lá para dentro e vai-se vestir. O cigarro seguinte é acendido no bico do fogão e é partilhado com uma fatia de pão com manteiga e uma festa no gato.
O cheiro a tabaco e a cebola mistura-se-lhe nas mãos... pontas dos dedos amarelecidas... unhas queimadas.
Uma hora depois sai de casa.
Volta ao fim do dia depois de mais uma rotina cumprida.
E ali fica... cigarro colado entre os dedos...
E ali fica a equilibrar-se na ponta da vida... de uma vida.
O cheiro a cebola e tabaco ainda não saiu das mãos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

S.O.S.

Um guilty pleasure?
Um ponto final? Mais um? Uma virgula? Um ponto e virgula?
A vida regida pela gramática. Na ponta de um lápis de carvão que se esborrata ao sabor de uma lágrima teimosa. E tudo recomeça depois de um ponto final e parágrafo. Com travessão. Há uma palavra a dizer.
E as palavras começam a escorregar pela ponta do tal lápis de carvão... e rodopiam no sentido da mão. E descem incontroláveis, ao ritmo de um único sentimento... a honestidade que rege.
Apagar? Apagar para recomeçar? Onde está a minha borracha? Tinha tantas... vindas de Espanha... ineficazes.
Uma luta, mais uma?... num recomeço, de muitos recomeços.
Um S.O.S.?

"Where are those happy days, they seem so hard to find
I try to reach for you but you have closed your mind
What ever happened to our love?
I wish I understood
It used to feel so nice, it used to be so good
So when you're near me, darling can't you hear me S.O.S.
The love you gave me, nothing else can save me S.O.S.
When you're gone, how can I even try to go on?
When you're gone, well I try, how can I carry on?
You seem so far away but you are standing nearer
You make me feel alive but something died I fear
I really tried to make it out
I wish I understood
What happened to our love, it used to be so good
So when you're near me, darling can't you hear me S.O.S.
The love you gave me, nothing else can save me S.O.S.
When you're gone, how can I even try to go on?
When you're gone, ooh I try, how can I carry on?
So when you're near me, darling can't you hear me S.O.S.
The love you gave me, nothing else can save me S.O.S.
When you're gone, how can I even try to go on?
When you're gone, ooh I try, how can I carry on?
When you're gone, how can I even try to go on?When you're gone, ooh I try, how can I carry on?"
(S.O.S., ABBA)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Thanks Frank

Perto dos 38 despeço-me dos 37 dedicando-me este "poema".
Sim, mereço... se mereço!
Porque cada etapa da nossa vida deve ser comemorada e homenageada. Pelos erros e conquistas, pelas alegrias e dores... pelo que crescemos... pelos sorrisos e lágrimas que espalhamos.
Porque olho para trás e vejo-me com orgulho... E por que olho para a frente e vejo-me com esperança.
Sim... Mereço!

"And now
the end is near
And so I face
the final curtain
My friend, I'll make it clear
I'll state my case of which I'm certain
I've lived a life that's full

traveled each and every highway
But more, more than this
I did it my way
Regrets, I've had a few

But then again, too few to mention
I did what I had to do
I saw it through without exemption
I planned each charted course

Each careful step along the byway
And more, much more than this
I did it my way
Yes there were times,

I guess you knew
When I bit off more than I could chew
And with it all when there was doubt
I ate it up and spit it out
I grew tall
throught it all
And did it my way
I've loved, laughed and cried

I've had my fill, my share of losing
But now as tears subside
I find it all so amusing
To think I did all that

And may I say, not in a shy way
no, no, not me
I did it my way
For what is a man, what has he got?

If not himself, than he has naugth
To say the things he truly feels
And not the words of one who kneels
The record shows, I took the blows

And did it my way"
(MY WAY - FRANK SINATRA)