quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Vôos livres

Agarra-me bem a ti, junto ao peito, para que possa ouvir o teu coração bater num compasso descompassado... ritual... que eu vou fazer o mesmo.
Mas deixa-me as asas de fada bem soltas, bem livres, para que possa voar com paz... sem amarras... que eu farei o mesmo.
Quero voar com a certeza de enternos regressos e encontros... com a certeza de estarmos sempre cá... e lá... para nós e para os outros.
Agarra-me bem a mão para que não escorregue nunca... que eu vou fazer o mesmo.
Mas não a apertes de mais, não a asfixies... para que o ar fresco dos dias possa correr entre elas... que eu farei o mesmo.
Quero correr Mundo e pelo Mundo de mãos dadas... com a certeza de que os cheiros se misturam e se mantém únicos... em simultâneo.
Agarra-me este sorriso dentro do bolso do teu casado... que eu vou fazer o mesmo.
Mas não lhe tapes a luz do sol, que o renova a cada dia e o engrandece... que eu farei o mesmo.
Quero este direito, ganho em muitas batalhas sangrentas, a sorrir... com a certeza de que não volta a desaparecer... nem nas escuridões.
Garante-me um para sempre feliz... que eu farei o mesmo.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Certezas tantas

Tinhamos tantas certezas de nós... eu tinha.
E tudo se desmoronou tal como na banal imagem do castelo de cartas.
As lágrimas correram e acabaram por secar. O sorriso amarfanhou-se.
Os passos tornaram-se mais lentos e o coração abrandou até quase parar.
Escurecemos por dentro... eu escureci.
E nunca mais fomos os mesmos... eu não sou.
Somos os mesmos de forma diferentes... quase irreconhecíveis.
Mas o sol não se deixa tapar para sempre e os arco-iris surgem sempre em dias de chuva.
E descobrimos um renovado sorriso... eu descobri.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Rédeas

Pego nas rédeas daquele cavalo à solta e seguro-as bem junto ao peito.
Dou uso às esporas... uma e duas vezes.
E a Terra continua na sua rotação habitual... sem parar.
Desequilibro-me e volto a puxar as rédeas.
Tudo sob um controlo descordenado... descompassado.
Mas é assim que se fabricam sorrisos.
Mas é assim que a vida avança.
Um esticão...outro...mais outro.
E tudo fica no sitio certo.
De onde nunca deveria ter saido.
Onde nunca esteve e nunca vai estar.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Volta ao Mundo

Uma pinta azul céu numa tela branca.
E um mar de cores de revolta silenciosa a envolver.
Como um jardim habitado.
Pequenos seres que se movimentam num silêncio quase mutante.
Pequenos seres que rodopiam num vai e vem talentoso.
Um mar... um ar...
Um balão encarnado a pairar... sempre por ali.
Um papagaio de papel preso a um fita verde, verde.
Um moinho de vento enterrado num vaso.
E risos... soltos... desmedidos... desprendidos.
Que rodam no Mundo e dão a volta ao Mundo.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Pedrinhas

Ponho uma mão ao bolso fundo do casaco preto e encontro um monte de pedrinhas do chão, da rua, que ele me dá para guardar. E só isto arranca-me mais um sorriso.
Estas pedrinhas abafam qualquer cansaço, as dores, os desesperos e as tristezas... até quase, quase desapareceram... até perderem a sua importância inútil quase, quase por completo.
E durante uma vida faço as pedrinhas rolarem-me por entre os meus dedos. E conheço-lhes as imperfeições e sei que será sempre aí que estará a sua beleza... eterna.

Fábrica das Letras - Beleza

sábado, 16 de janeiro de 2010

Caminhar

Sentei-me de pernas cruzadas no chão frio daquele templo. Limpei as lágrimas secas e mantive a cabeça entre as mãos durante horas.
Lá fora uma chuva miudinha chorava por mim. E uma névoa mansinha borbulhava à minha volta.
Ali estava segura.
Ali sentia o conforto dos intermináveis dias invernosos de toda uma vida.
Ali poderia permanecer num sempre inexistente.
Levantei-me num gesto longo. Senti todos os pequenos músculos a mexerem-se num movimento ténue e indefinifo.
E caminhei...

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Outros

Uma gota de suor escorre-me pela cara... uma lágrima mais salgada ainda... um sinal de luta renhida contra os titãs do mal.
Escrevo comigo na primeira pessoa... sobre os outros... com os outros.
E deixo que a vida me marque... cicatrizes de guerra... por mim... comigo... com os outros... todos.
Tento marcar a vida, que se esquiva a cada golpe... mas não foge... bem presa... a mim... com os outros.
E volto a escolher um sorriso... um abraço.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sorrio

A chuva miudinha bate-me na cara e encharca-me a roupa e a pele.
E eu sorrio enquanto caminho por cima das nuvens... descalça.
E eu sorrio imune às dores.
Sinto o cheiro a terra molhada, misturado com o pó dos dias.
E sorrio... simplesmente sorrio.