Mais um dia
daqueles digno de filme de humor… negro. OU de terror, nem seibem. Não houve
nada que não me acontecesse. E tu sabes como sou, por norma, uma pessoa ao
estilo “alto astral”. Mas uma tarde inteirinha na segurança social à espera de
vez esfrangalha o sistema nervoso do ser mais zen.
Durante
aquelas intermináveis horas senti cada segundo que passou, com os sons e odores
que volatilizavam por ali. Fragmentos de conversas invariavelmente tristes.
Cheiro a cansaço de exército que depôs as armas (e de alguma transpiração e
falta de banho também).
Fiquei a
saber que os dois filhos da senhora gorda que se sentou ao meu lado com a amiga
deram o salto para o estrangeiro e como ela sente a falta dos netos. Assisti a
uma pequena conferência dedicado ao tema “alimentação saudável e ginásio” e
outra sobre “como sustentar uma família quando estão os dois desempregados e os
4 filhos continuam a comer, a vestir e a ir à escola”.
Aprendi
muito sobre as novas oportunidades no mundo do faça vocês mesmo. Aí acho que
dormitei um pouco. Sempre ajudou a passar uns 20 minutinhos.
Pelo meio
duas cenas de gritaria, entre a ofensa à mãe dos senhores do governo e o choro
de desespero por não se saber o dia de amanhã.
Pois é,
querido diário. Ninguém pode ficar indiferente a uma tarde naquele espaço
mofado e bolorento, tomado de assalto por uma tropa de infelizes.
Mas,
finalmente casa. Ansiava pelo banho quente (que ainda me posso dar ao luxo de
tomar). Por esses minutos tentaria esquecer todas aquelas dores que se me
entranharam no corpo e na alma.
Mas… espanto
dos espanto. Primeiros sinais da catástrofe – a casa tinha outro cheiro, o
cheiro da minha mãe, e uns passos à frente, na mesa de entrada, um bilhetinho dela.
Estremeci: “passei por cá hoje filha!!! Estavas mesmo a precisar. Um beijo
grande, Mãe”. Entrei bem devagar na sala onde tenho a minha, muito minha, mesa
de trabalho. Em passo lento tentei reter o momento e conter a irritação que me
começava a invadir. Um nó na garganta, bem pequenino, que se agiganta… e vejo
aquilo que já sabia: a minha secretária estava irremediavelmente arrumada.
E agora?
Entre a irritação e o pânico começo à procura dos meus papeis. Aqueles que
conhecia de cor a posição no meio da sua desarrumação sempre muito organizada.
Sentei-me
para deixar que o ar entrasse e me acalmasse com os cotovelos poisados na
secretária, as mãos entre a cabeça e os olhos fechados. Aquela arrumação iria obrigar-me
a horas infindas para descobrir as minhas coisas e as voltar a pôr nos seus
lugares por direito.
De repente
levanto os olhos e fecho-te a ti, meu querido Diário, mesmo no topo de um
montinho de papéis, em destaque, parecias ter um brilho tão diferente, que nem
sabia como explicar. E aí percebi. Tu viste tudo!!!
Há muito tempo que não passava por aqui hoje resolvi ler o pouquinho que partilhaste connosco do teu diário. Beijinhos
ResponderEliminar