quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por curiosidade

Por curiosidade, um dia, pôs os olhos de fora...
... depois as orelhas e o nariz... sim, ousou pôr as orelhas e o nariz de fora em simultâneo.
E finalmente esticou o pescoço para ver.
Apurou os sentidos.
Sim, já que tinha tido a coragem de, por curiosidade, espreitar ia aproveitar para beber tudo.
E bebeu com a sofregidão de quem tem estado trancada há muitos séculos. Bebeu até não sobrar gota.
E no dia a seguir, e no outro e depois no outro, e ainda no que veio depois... por curiosidade... continuou a espreitar, e a beber o Mundo, e a receber do Mundo.
Foi-o fazendo cada vez mais lentamente. E depois dos primeiros meses, ou anos, de embriaguez foi fazendo tudo e espreitando vagarosamente, com mais lentidão. Continuou a nunca estudar passos ou movimentos. Passou simplesmente a viver mais os momentos. E a crescer ainda mais com isso. E sempre por curiosidade.
Até que um dia, sem dar por isso, percebeu que, por curiosidade, tinha o corpo todo de fora. Assustou-se, paralizou por momentos, pensou em voltar para dentro. Mas o caminho de regresso estava interditado pela sua própria vontade.
Naquele dia percebeu que, por curiosidade, além de beber do Mundo e o Mundo também ela dava de beber a esse mesmo Mundo.
E tudo em nome de uma imensa curiosidade!!!

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