sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Exercício III - Elisa



A esperança é um engodo. Atrai-nos na sua teia, prende-nos os movimentos e suga-nos até cairmos exaustos.
Procurei por Elisa durante anos. Percorri os seus caminhos habituais durante meses a fio. Ou, pelo menos, aqueles que eu achava serem os seus caminhos. Senti-me a pisar as mesmas ervas, as mesmas pedras, o mesmo chão que Elisa. Uma forma de a ter.
Virei todas as esquinas de Lisboa, sempre convencido que era ali que iríamos voltar a tropeçar um no outro e, agora sim, permaneceríamos para sempre.
Perdi a conta ao número de vezes que gritei o seu nome durante a noite. Para depois abrir os olhos e encontrar o vazio da sua ausência. Pedro a conta ao número de vezes que te acaricie a pele e fizemos amor devagarinho... em sonhos.
Naquele dia decidi que era a última vez que faria o seu percurso de comboio. Seria a última vez que percorreria os caminhos de Elisa. Sentado no comboio, cansado, voltei a casa. Retive na memória o sorriso que o revisor me entregou.
Abri a porta de casa e olhei em frente, como sempre fazia em modo de ritual. Elisa estava sentada na ponta do sofá, pernas juntas, mãos nos joelhos. Nos lábios o batom vermelho vinho.


Sem comentários:

Enviar um comentário