domingo, 12 de julho de 2009

Amêndoa Amarga

Arrasta os pés, do corpo pinga suor, os músculos parecem rasgados e a querer desistir, o calor invade-lhe o corpo para logo de seguida o abandonar. O cabelo que resta está desgrenhado e sujo, a pele áspera e as unhas das mãos e dos pés pintadas de fresco e negras.
Encosta-se ao balcão e pede uma amêndoa amarga, que afinal é doce, e bebe de um gole. Pede outra, sem gelo. E bebe o mais devagar que consegue, o mais devagar que sabe, tão devagar pela primeira vez no seu quase meio século de existências.
E ali está e ali fica e ali perde a noção do tempo e do espaço, que nunca teve, que nunca quiz ter. E dali parte na sua última viagem, numa caminhada sem rumo definido e com linhas bem traçadas. Sem se desencostar do balcão, daquele balcão que poderia ser outro qualquer.
Encostada áquele balcão, onde todos os olhos fingem não a olhar, onde todos os olhos não a conseguem ver, perde-se... e encontra-se...

1 comentário:

  1. Comigo sempre foi nos estados de maior solidão, naqueles em que me pensava perdida do mundo, que reencontrei o que afinal estava perdido em mim.

    ;)

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