sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ilusão?

Naquela manhã sentaram-se na cama e decidiram. Decidiram um sonho e viveram-no até ao limite. Uns dois meses depois e esse sonho crescia na sua barriga... que ele via crescer e ajudava a cuidar com um carinho imenso. Nove meses depois disso e já esse sonho se materializava em pleno. Um sonho lindo... o sonho mais lindo... que ficou completo cinco anos depois, de mão dada com um outro sonho... com outro sonho mais lindo.
Pelo caminho eles foram-se perdendo um do outro. Deixaram de ter sonhos em conjunto... Deixaram de se reencontrar pela manhã num beijo de bom-dia ou à noite em abraços prolongados... Dormiam de costas voltadas... Viviam de costas voltadas... Seguiram caminhos opostos que os rasgou um do outro e os dilacerou a cada um.
Onde se perderam?
Ilusão?!?!?

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Vidas vivas

Cruzou os braços e pela primeira vez teve aquela consciência de que respirava. Tocou nos ossos das costelas, sentiu a pele e o movimento da respiração, mesmo por cima da camisola. E sentiu dor.
Reacção imediata... franziu a cara... e depois sorriu porque estava viva. E quando se está vivo pode continuar-se a luta.
E decidiu que ia vencer a doença, e que não iria permitir ser abatida por ela. Mesmo que seja crónica... não a ia deixar avançar e contaminar-lhe o resto do corpo.
Não podia! Não queria!
Não pode e não quer.
Na quinta a algazarra das crianças abraçou-a. O riso dos seus sobressaía nos seus ouvidos e no seu sentir.
Lindos!!! Um homem aranha pequenino a tentar escalar as redes que o separam dos animais. Uma espanhola, dançarina de rumba, a correr de saltos altos entre a relva, as ervas e a terra batida. Lindos!!!
E no final do dia, sem conseguir sequer passar com as mãos pela pele por causa das dores, sente-se feliz. Muito feliz. Porque está viva e vê a vida a crescer.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por curiosidade

Por curiosidade, um dia, pôs os olhos de fora...
... depois as orelhas e o nariz... sim, ousou pôr as orelhas e o nariz de fora em simultâneo.
E finalmente esticou o pescoço para ver.
Apurou os sentidos.
Sim, já que tinha tido a coragem de, por curiosidade, espreitar ia aproveitar para beber tudo.
E bebeu com a sofregidão de quem tem estado trancada há muitos séculos. Bebeu até não sobrar gota.
E no dia a seguir, e no outro e depois no outro, e ainda no que veio depois... por curiosidade... continuou a espreitar, e a beber o Mundo, e a receber do Mundo.
Foi-o fazendo cada vez mais lentamente. E depois dos primeiros meses, ou anos, de embriaguez foi fazendo tudo e espreitando vagarosamente, com mais lentidão. Continuou a nunca estudar passos ou movimentos. Passou simplesmente a viver mais os momentos. E a crescer ainda mais com isso. E sempre por curiosidade.
Até que um dia, sem dar por isso, percebeu que, por curiosidade, tinha o corpo todo de fora. Assustou-se, paralizou por momentos, pensou em voltar para dentro. Mas o caminho de regresso estava interditado pela sua própria vontade.
Naquele dia percebeu que, por curiosidade, além de beber do Mundo e o Mundo também ela dava de beber a esse mesmo Mundo.
E tudo em nome de uma imensa curiosidade!!!

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Procurar

Procurou pela casa toda.
Em cada cantinho, debaixo dos tapetes e dos armários e das camas,
Atrás das portas e nas caixas dos brinquedos dos miúdos.
Mas nada!!!
Viu muito bem dentro das gavetas, das malas que estão guardadas no armário, por trás dos cortinados e dentro dos vasos das plantas que tem na varanda.
Até levantou o colchão, não fossem ter caido sem querer lá para baixo.
Abriu os armários da cozinha, espreitou na máquina da roupa e dentro da tulha.
Nada! Nada! Nada!
Durante uma manhã inteira procurou e repetiu passos, não fosse ter visto bem.
Revirou a casa de alto a baixo, de frente para trás, da esquerda para a direita, na diagonal... e... Nada!!!
Finalmente, esgotada, sentou-se no sofá, recostada nas almofadas já sem cor. E sentiu algo no bolso do robe. Lá estava o que procurou uma manhã inteira... a serenidade... bem no seu bolso!...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Prioridades

O mundo dos blogs pode ser fascinante. Muitas vezes aí as pessoas encontram pontos de afinidade, revêm-se no que leêm, nas palavras e sentires dos outros. Que muitas vezes não conhecem, nem nunca conheceram... a não ser um nick e vários sentires evolutivos.
Cecília tinha passado a tarde a deambular pela famosa blogosfera, e foi descobrindo um mundo paralelo que se desenvolve mesmo ao lado dela. E foi conquistando terreno neste reino onde, atrás de um nome imaginário, se passam vidas bem reais.
Andou por ali perdida durante horas... fascinada com que ia descobrindo e lendo. A noite ia bem avançada, mas o sono não vinha. Estores fechados para que o frio da rua não entrasse pelas madeiras das janelas já apodrecidas. Velas acessas, o cheiro a insenço no ar e só a luz obrigatoria a que sentisse o calor do conforto.
Algures leu um post sobre a solidão... e oc omentário. E pensou como sabe tão bem sentir-se a sua melhor companhia. Cecília tem a certeza que a vida lhe deu de que nunca saberá o que é a solidão... ou estar sózinha. E há quem esteja tão só no meio da multidão ou da banalidade que escolheu como forma de vida!!!
Mais à frente um outro post, engraçado, sobre listas de tarefas e missões cumpridas. E Cecília pensa em listas... e prioridades... E como ao longo da vida tem vindo a alterar a sua lista de prioridades... "E como eu também adoro fazer listas!!!", pensou com um sorriso.
E em pouco tempo abandonou o computador, pegou no caderno de capa dura, às cores, onde escreve e reescreve o que é mesmo só seu, e no lápis, bem afiado, e começou uma nova lista de prioridades.
16 de Fevereiro de 2009
(Sala)
Lista de Prioridades:
1 - Sorrir para mim todos os dias
2 - Abraçar os gordos todos os dias e dizer-lhes o quanto os amo
3 - Tentar ralhar menos com eles
4 - Saúde... reiki
5 - Sentir... mesmo que doa
6 - Levar os gordos à Disneylândia
7 - Amar e respeitar as formas e os seres
8 - Seguir os sonhos
9 - Manter a honestidade e verticalidade... mesmo que doa outra vez
10 - Voltar a sorrir
Cecília fechou o caderno de capa dura, às cores, onde escreve e reescreve o que é mesmo só seu, encostou-lhe o lápis, que estava já a ficar sem bico... e... sorriu.

Carta de amor pós-São Valentim

Lisboa, 15 de Fevereiro de 2009

Meu querido? Olá?
Não sei começar cartas de "amor"... é oficial.

Há quase um ano que nada sei de ti. E, (não muito) curiosamente, não quero saber.
Não quero saber o que fazes o que sentes, por onde andas. Não te desejo qualquer mal ou sofrimento... simplesmente não quero saber, nem sequer cruzar-me contigo. E muito menos quero que saibas de mim, da minha vida. Aliás, proibi o mundo de falar o teu nome e de te ir falar de mim. Porque havia quem insistisse que deveriamos ficar juntos outra vez. Que maldade seria para mim mesma.
Mas isso não quer dizer que não pense em ti, que não me recorde com carinho e saudade do que vivi de bom ao teu lado, e que me esforce (por questões de segurança) para não me esquecer de tudo o que me fizeste sofrer (e foi muito... e foi muito mau).
Tenho acima de tudo saudades das tuas mãos e da tua voz, da tua companhia, das nossas conversas, de rir diparatamente no meio da rua e de corrermos para casa onde os abraços eram ainda mais profundos e encaixavam na perfeição... de tudo o que fizemos a quatro mãos. E foi muita coisa.
Mas aquela paixão que nos ligou por mais de um ano foi obsessiva, controladora, doentia... e eu estava a deixar de respirar... e eu fui-me libertando, atabalhoadamente. como soube e consegui. E sei que aí te magoei. Fizeste-me mal e eu estava a morrer aos poucos. Perdi o sorriso e o brilho nos olhos, mesmo quando estavas ao meu lado. Fiz coisas que sempre condenei e nunca sonhei que poderia fazer... e, principalmente, permiti que me maltratasses.
Como é que ainda tenho saudades de algumas coisas? Não sei, talvez um dia perceba isso. Como é que ainda consigo pensar em ti com carinho? Não faço ideia e nem tento perceber.
Percebo sim que aquela paixão... que era suposto ter-se transformado no amor de uma vida... passou a obsessão, a maus tratos (porque a violência não é só física). E eu amei... tanto e tão sózinha. Até perceber que sempre tive razão, que de amor só se morre mesmo nos livros do Camilo Castelo Branco. Amei até se tornar em mim consciente que estava a amar sózinha... e que não queria isso... e que mereço mais e melhor. E que não tenho perfil para ser maltratada, em silêncio e com vergonha.
Mas custa muito admitir, principalmente quando se rebenta com o Mundo por um amor que depois não o é.
Poderia desfiar aqui um rol de dores, uma lista de desonestidades e acusações. Mas não quero. Isso é mesquinho demais para o tamanho do amor que te dediquei e em nada apaga o que passei. Neste momento só me ocorre pensar que ainda bem que já não estás na minha vida.
E passado mais de um ano, em que o tempo realmente não consegue apagar tudo, voltei a sorrir, voltei a reencontrar-me... talvez um dia também volte a acreditar.

Fica bem,
Maria

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Quero as janelas abertas

"Quero janelas abertas e o sol a entrar...", canta a Mafalda na rádio. E Cecília canta com ela. E os miúdos riem à gargalhada. E as pessoas dos carros ao lado olham perplexas, com um ar infeliz, enquanto aqueles três seres se abanam ao sabor e ao saber daquela música.
E Cecília sabe, naquele momento, que quer o seu mundo inteiro dentro do olhar deles... e que quer o mundo deles, todo, dentro dela.
E sabe que para chegar a este ponto virou o mundo do avesso, voltou a endireitar e a virar do avesso... vezes sem conta... até ver bem tudo o que queria.
E sabe que o vai fazer vezes sem conta pela vida fora, sempre que quiser, sempre que achar que precisa... mesmo que doa... muito.
Mas também sabe que por entre cada dor está escondido um sorriso... é tudo uma questão de virar do avesso e ver melhor!!! E deixar sentir... e deixar seguir...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Desfragmentações

Maria sobe a rua,
Desce a rua,
Vira aqui, vira mais além, vira acolá.
E continua a subir.
Cruza-se com Maria... com Céu... com Jaime.
Cruza-se consigo e com outros.
Cruza-se no seu mundo e no mundo dos outros.
Maria sobe a rua,
Desce a rua.
Vira aqui, vira mais além, vira acolá.
E continua a subir.
Sobe e desce; sobe e desce; sobe, sobe...
Desfragmenta-se, reagrupa-se, vira-se do avesso e endireita-se numa roda vida moribunda.
Maria sobe a rua,
Desce a rua.
Vira aqui, vira mais além, vira acolá.
E continua a subir.
Os cheiros dos caminhos asslatam-na, entram-lhe nos poros e ela rejeita-os, empurra-os.
Quer os seus cheiros.
Quer ser livre de escolher os seus cheiros.
Maria sobe a rua,
Desce a rua.
Vira aqui, vira mais além, vira acolá.
E continua a subir.
E atira-se pela enconta de silvas.
E em cada arranhão, em cada rasgão, em cada gota do seu sangue, em cada dor sabe que está viva.
E quer estar viva... e mantem os 1001 sentido em alerta.
Maria sobe a rua,
Desce a rua.
Vira aqui, vira mais além, vira acolá.E continua a subir.
Sobe e desce; sobe e desce; sobe, sobe...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Arroz Doce

Cecília abriu a porta das suas águas furtadas com o coração a bater dentro do peito e junto à palma da mão esquerda.
Por entre o escuro sentiu o cheiro a arroz doce quente, acabadinho de fazer. O arroz doce da avó São! E o frigorifico cheio de tudo aquilo que gosta. A mãe!
As duas presentiram o seu regresso. Cecília não anunciou datas. Recusou até a dizer quando estaria de volta. E elas souberam... sem palavras... sem gestos... sem sinais.
E acolheram Cecília de volta nos seus braços... entre sorrisos e almofadas. E Cecília sorriu com elas e para elas, enquanto comia uma taça de arroz doce quentinho já enterrada no seu pufe.
E não há outro arroz doce no mundo como aquele. E Cecília correu o mundo e os mundos. E só ali, nos braços da avó, reencontrou "aquele" arroz doce, que ela fazia sempre para ela.
Já com as janelas das águas furtadas escancaradas, Cecília deixou-se dormir ao som da chuva fininha que caía lá fora e do brilho de um arco-íris que lhe entrou pela janela.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Regressos

Helena... Lucinda... Madalena... Clarisse... Cecília... André... Júlio... Jaime... Partiram, de mochila às costas. Espalharam-se pelo Mundo, nos seus mundos. Absorveram outros mundos, que encaixaram no seu mundo, e regressaram.
Aprenderam, cresceram, receberam e deram.
Voltaram muito maiores, mas com a certeza de que ainda têm muito mais para engrandecer. Voltaram mais humildes... e logo maiores como pessoas.
Sete meses depois, nem mais nem menos, como tinham combinado sem necessitar de trocar palavras, regressaram àquele pontão com vista para o rio e lá ao fundo o mar.
Desta vez sem coca-colas e pastéis de Belém.
Desta vez com poeira entranhada no corpo e na alma.
Desta vez com sorrisos rasgados e a vontade inquebrantável de continuar a partilhar.
Desta vez com a alma renovada e o ímpeto de escancarar as janelas das suas águas furtadas.
Quem são Helena... Lucinda... Madalena... Clarisse... Cecília... André... Júlio... Jaime? São quem sempre foram.
Seres em evolução constante, seres com gosto pelo crescimento, seres com os olhos no futuro, pisando o presente e relembrando sempre o(s) passado(s).
Seres de luz que são um Ser.